
Estende-me teus braços
oh Ria Formosa
não quero outros laços
em versos ou prosa
que possam deter
meu olhar marinho
o mar a correr
a gemer baixinho.
Oh Faro cidade
de lendas e mouros.
Morro de saudade
em prantos e choros.
Marilia Gonçalves
Verde cinza de oliveira
guitarras ao longe soam
no areal na ladeira
cigarras o Verão entoam.
Serenatas que são sol
nos sons do sul que me perde
dédalo fantasiado
multiplicidade verde.
Sul ao sol da cal azul
águas a fluir levando
o levante que nos põe
nos corpos morno quebranto.
Laranjais a gritar cor
como a chamar os que seus
fugidos do seu amor
‘inda lhes dizem adeus.
Na terra que ressequida
pede uma lágrima ao céu
há uma lenda escondida
ou um som que se perdeu.
Sul da imaginação
quando a verdade distante
desperta no coração
a nora suplicante
na voz mourisca da historia
os olhos voltam de vez.
Porque dentro da memória
está o ser-se português.
Meu abrigo minha casa
como eu te quero bem
lembras o sol sempre em brasa
nos braços de minha mãe.
Minha casa onde moraram
meus sonhos de mocidade
onde meus filhos brincaram
meninos de pouca idade.
Minha casa de encerados
do cheiro quente do forno...
desses dias encantados
presos ao nosso olhar morno.
Minha casa dos amantes
a viver dias que passam
tão ternos tão esfuziantes
mas que depressa esvoaçam.