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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ria Formosa


Estende-me teus braços

oh Ria  Formosa

não quero outros laços

em versos ou prosa

que possam deter

meu olhar marinho

o mar a correr

a gemer baixinho.

Oh Faro cidade

de lendas e mouros.

Morro de saudade

em prantos e choros.


Marilia Gonçalves



Verde cinza de oliveira

guitarras ao longe soam

no areal na ladeira

cigarras o Verão entoam.

Serenatas que são sol

nos sons do sul que me perde

dédalo fantasiado

multiplicidade verde.

 

Sul ao sol da cal azul

águas a fluir levando

o levante que nos põe

nos corpos morno quebranto.

 

Laranjais a gritar cor

como a chamar os que seus

fugidos do seu amor

‘inda lhes dizem adeus.

 

Na terra que ressequida

pede uma lágrima ao céu

há uma lenda escondida

ou um som que se perdeu.

 

Sul da imaginação

quando a verdade distante

desperta no coração

a nora suplicante

na voz mourisca da historia

os olhos voltam de vez.

 

Porque dentro da memória

está o ser-se português.

A Casa


Meu abrigo minha casa

como eu te quero bem

lembras o sol sempre em brasa

nos braços de minha mãe.

 

Minha casa onde moraram

meus sonhos de mocidade

onde meus filhos brincaram

meninos de pouca idade.

 

Minha casa de encerados

do cheiro quente do forno...

desses dias encantados

presos ao nosso olhar morno.

 

Minha casa dos amantes

a viver dias que passam

tão ternos tão esfuziantes

mas que depressa esvoaçam.

ANOITECER NA RIA



ANOITECER NA RIA

 

Desfaz-se o luar a Ria

em fios de prata a boiar

mil estrelas a naufragar

quando chega o fim do dia.

 

Nessa pálida harmonia

bailados da luz poente

cintilam suavemente...

murmúrios d’água, segredos

falas antigas e medos

vogam também na corrente.

 

 Marília Gonçalves